Patagônia em velocidade de cruzeiro!

Há algum tempo eu escrevi sobre o início da minha viagem à Patagônia e daí muitas coisas aconteceram. Outras viagens, o programa O Mochileiro, o livro (que está em andamento) e outros projetos, mas tudo tem um lado bom, pois a temporada de cruzeiros está recomeçando e se você quer ter uma experiência incrível, está no lugar certo!

Ah, antes de começar mesmo esse post, recomendo ler o primeiro post que escrevi sobre o assunto: “A caminho da Patagônia“, que explica como começou essa aventura! Sim, eu espero! Vai lá!

E aí, já leu? Ok, então aqui vai…

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Punta Arenas sumiu das nossas vistas e o sol também. Agora, a escuridão e o frio só acompanhavam o barulho do navio rasgando as geladas águas que cruzavam o Estreito de Magalhães, famoso por ter sido explorado por muitos navegantes do mundo inteiro.

Era hora de olhar o mapa da rota do Stella Australis, o navio que, pelo seu porte, grande, confortável (capacidade para até 210 passageiros), mas menor que grandes cruzeiros que estamos acostumados a ver, visitaria locais pouco navegados e quase exclusivos, onde só ele e a marinha chilena estão autorizados a entrar. Começávamos a recortar ilhas, geleiras e conhecer pequenos canais. Isso deixou a aventura ainda mais incrível!

A nossa rota
A nossa rota
Stella Australis, o nosso navio
Stella Australis, o nosso navio

Os próximos cinco dias e quatro noites seriam de navegação e paradas estratégicas para explorar locais remotos com paisagens incríveis e repletos de natureza. Eu os descrevo aqui:

1º DIA

Conhecemos a cabine (ampla e com uma enorme janela) e algumas partes do navio. Em seguida, subimos para ver a partida e acompanhar o final da tarde com Punta Arenas sumindo no horizonte. Logo anoiteceu e, sem o sol, o frio veio bem forte.

Dentro do navio, recebemos as boas vindas e fomos apresentados ao capitão e à tripulação. Além disso, tivemos as primeiras orientações sobre a navegação e sobre o navio e então curtimos o primeiro jantar a bordo, onde conhecemos mais alguns viajantes com quem dividiríamos os botes de exploração (zodiacs) e muitos momentos, em excursões e refeições.

Após o jantar, como ocorreria em todas as noites, assistimos a uma palestra sobre a Patagônia, destacando as regiões por onde passaríamos e sobre os passeios, assim como as roupas que deveríamos usar em cada descida. Depois disso, só nos restou voltar à cabine para descansar e esperar o dia seguinte. A aventura tinha mesmo começado!

 

Entardecer a bordo
Entardecer a bordo

 

Curtindo a cabine e o janelão com vista pra Patagônia
Curtindo a cabine e o janelão com vista pra Patagônia

2º DIA

O segundo dia amanheceu e pela janela já vimos o que nos esperava. A Patagônia nos mostrava a Baía Ainsworth, onde aconteceria a nossa primeira parada. E que cartão de visitas a Patagônia nos deu!

O café da manhã foi espetacular e assim seguiu diariamente. O aviso sonoro nos alertou sobre a parada para o primeiro desembarque. Navio ancorado, botes Zodiac na água e os grupos, após se equiparem, foram desembarcando próximos à Cordilheira Darwin. De repente o comandante reduziu o motor do bote e vimos que uma pequena ilhota nos reservava uma grande surpresa. A primeira. Um enorme elefante marinho descansava em uma curta faixa de areia quando outro, saindo da água, se aproximou. Um pequeno desentendimento começou, mas o elefante mais novo logo percebeu que não deveria seguir e retornou.

O encontro dos elefantes marinhos
O encontro dos elefantes marinhos

Aquilo já valeria a manhã, mas ainda seguiríamos para uma caminhada  pelo parque Nacional Alberto de Agostini, onde pudemos apreciar a mudança da natureza após o recuo das geleiras. Acompanhados de guias, conhecemos bastante do comportamento desse ecossistema. Cores incríveis e muita vida nesse lugar único.

Uísque com gelo glaciar
Uísque com gelo glaciar

Antes do retorno ao navio, nos ofereceram uísque com gelo patagônico “colhido” ali mesmo. A outra opção era chocolate quente. E caiu bem, ainda mais o meu, que na segunda dose acabou virando “chocouísque”. Ou seria uísquelate quente?

Após o retorno e um belo almoço, novas instruções de desembarque e, desta vez, o passeio seria sempre nos botes. Visitamos as ilhotas Tuckers, onde os belos cormorões (bonitos pássaros da região) podem ser observados, além dos simpáticos pinguins de Magalhães. O retorno teve direito a mão quase congelada e banho de água fria após tentar filmar bem próximo (leia “dentro”) à água. O que vale é que as imagens ficaram legais e em breve vocês poderão ver! 😉

À noite, após o jantar e um merecido banho quente, já me dava por satisfeito e, mesmo que o cruzeiro acabasse naquele momento, eu já voltaria feliz pra casa. Mas tinha mais. Muito mais!

Finalmente os pinguins
Finalmente os pinguins
Bote Zodiac saindo para um dos passeios
Bote Zodiac saindo para um dos passeios

Palestra do dia: Glaciologia da Patagônia

Madrugada, um capítulo à parte.

Já havíamos sido avisados que a segunda noite seria a pior para quem tem algum tipo de náusea ou desconforto com embarcações balançando. Por volta das 2h da manhã, sairíamos dos canais e, por aproximadamente 30 minutos, navegaríamos na costa do Oceano Pacífico, que nessa região costuma ser bem agitado. Nessa noite o bar fecha mais cedo e tudo que é mais – digamos assim – vulnerável, acaba sendo amarrado, pois o balanço não é brincadeira. E não foi.

Olha só, tenho sono pesado.  Ainda mais após um dia cheio de atividades e com uma cama pra lá de confortável. Nesse cenário, já seria difícil me acordar. Mas acordei. Estávamos no segundo andar e as ondas golpeavam nossa janela com força a cada entornada que o navio dava. Antes disso, já havíamos saltado da cama e tirado todos equipamentos (câmeras, computadores etc) da mesa / balcão que ficava em frente, pois os objetos deslizavam para cá e para lá como que sincronizados em um balé.

Só conseguimos voltar a dormir após o navio retornar aos canais, até porque tentar se segurar na cama não era das tarefas mais fáceis naquele momento. Esse foi certamente o momento da Patagônia mostrar sua força e de lembrarmos que sempre devemos respeitar a natureza. Naquele momento eu entendi porque tantos navios naufragaram naquela região e o alívio que senti quando tudo se acalmou deve ter sido o mesmo que muitos navegadores já sentiram em centenas de anos. Calmo, foi fácil pegar no sono novamente pra esperar o dia seguinte!

3º DIA

Já esperava ver mais coisas lindas, afinal, cada dia nos reservava uma nova surpres. E não me decepcionei. Era o dia dos glaciares, essas formações incríveis e quase que indescritíveis. Beleza e imponência que não têm tamanho!

Entramos pelo mundialmente conhecido Canal Beagle até o Fiorde Pia para alcançar o glaciar de mesmo nome. Um cartão postal. Uma das paisagens mais lindas que eu já havia visto. O gelo desce pelas montanhas e forma um caminho branco azulado até desaguar no mar. Com sorte, você pode acompanhar o desprendimento de um dos pedaços do glaciar até que se choque com a água e afunde. Um pouco depois ele ressurgirá boiando. O barulho é incrível. Parece uma grande explosão. A visão é inesquecível e tivemos a sorte de ver isso acontecer!

Desembarque no Glaciar Pia
Desembarque no Glaciar Pia

 

Deixando o Glaciar Pia
Deixando o Glaciar Pia

Uma caminhada pela região rochosa nos levou a várias partes do Glaciar Pia e, a cada avanço de poucos metros, surgia um ângulo ainda mais bonito se comparado ao anterior. Para celebrar esse momento, uísque com gelo glaciar novamente!

Após um belo almoço (mais maneirado e vocês entenderão o motivo em breve), partimos para a segunda excursão do dia. Na verdade não haveria descida em botes, mas sim um momento especial a bordo! A partir das 16h começaria a travessia da Avenida  dos Glaciares, que é um largo canal onde vários glaciares com nomes de países desembocam (ou desembocaram um dia). Ao som de típicas músicas de cada nação, petiscos e bebidas combinados, acompanhamos a passagem de cada um deles, tudo isso perfeitamente emoldurado por um pôr-do-sol incrível e pelo rastro da nossa embarcação.

Avenida dos Glaciares
Avenida dos Glaciares
O rastro do navio na avenida dos glaciares
O rastro do navio na avenida dos glaciares

Alemanha, Itália, França, Holanda e outros países passaram pela nossa janela! Um espetáculo lindo!

E depois disso tudo, imagina como o mochileiro foi dormir?

Palestra do dia: Boletim informativo Cabo Horn

4º DIA

Quando embarcamos, já sabíamos que a visita ao Cabo de Hornos, o ponto mais austral do planeta, dependia muito das condições climáticas. O mar e o vento autorizam ou não o desembarque dos botes zodiac e em muitas oportunidades isso não acontece, devido ao risco de acidentes ou por conta da visibilidade.

Chegar bem cedo e desembarcar o quanto antes também é uma regra a ser seguida, afinal, o tempo costuma estar melhor durante o nascer do sol. A chance de chegar a esse local não deve ser desperdiçada, uma vez que o tempo costuma virar rapidamente por lá!

Cabo Hornos, o ponto mais austral do planeta
Cabo Hornos, o ponto mais austral do planeta

Deu tudo certo e, antes mesmo do café, já estávamos a postos. Havíamos acordado antes do aviso sonoro, pois o balanço do navio aumenta consideravelmente nessa região. É a famosa Tierra del Fuego, inferno de centenas de navegadores e palco de muitas tragédias marítimas!

Os botes foram para a água e logo subíamos a estreita escada de madeira que nos levaria ao fim do mundo, onde oficialmente os oceanos Atlântico e Pacífico se encontram. O vento era violento e, apesar do sol que já brilhava, o frio mal nos deixava sacar a câmera para uma foto. De gorro, capuz e óculos, eu tentava me proteger, mas qualquer brecha na roupa já congelava. Porém, quando chegamos ao ponto final, a sensação de alegria e de missão cumprida nos fez esquecer que o termômetro registrava pelo menos uns 10 graus negativos.

Faz muito frio no fim do mundo. Mas vale a pena!
Faz muito frio no fim do mundo. Mas vale a pena!

De volta ao barco, o almoço foi em clima de festa. Já relembrávamos cada um dos passeios e elegíamos os pontos altos da viagem. Seriam todos? Acho que sim!

A tarde ainda nos reservava uma despedida de ouro. Desembarcamos na Baía Wulaia, lugar histórico que foi um dos maiores assentamentos de nativos canoeiros Yámanas na região e onde Charles Darwin esteve em 1833. Caminhamos pelo bosque de Magalhães dentre uma vegetação incrível e colorida, porém o tempo fechado não deixava mostrar toda sua beleza. Mentira! De uma outra forma ela nos brindou e a neve começou a cair fortemente. Em alguns minutos ela cobriu de branco troncos, plantas e o nosso caminho. E, da mesma maneira que ela veio, também parou e sumiu. Foi então que o sol abriu espaço e deixou a neve brilhante. Nos olhávamos e não acreditávamos que aquilo havia acontecido. E quando chegamos ao mirante e todo o grupo se reuniu, um dos guias pediu um minuto de silêncio para sentirmos aquele local. Pensei: “só um minuto?” E acho que todos pensaram o mesmo, pois o silêncio só foi quebrado após mais de cinco minutos, pelo próprio guia, nos avisando que deveríamos começar a descer, pois o tempo já mudava novamente e o navio deveria partir.

Patagônia fechada com chave de ouro
Patagônia fechada com chave de ouro

Palestra do dia: Descobrindo a Terra do Fogo

5º DIA

Chegamos em Ushuaia, cidade mais importante da Terra do Fogo e a mais austral do mundo. Nos despedimos do Stella Australis e voltamos a pisar em terra firme. Era hora de conhecer Ushuaia e a região, mas isso eu vou deixar pra outro post!

Ushuaia
Ushuaia

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Serviço:

Há 20 anos a Australis leva aventureiros que não abrem mão do conforto e exclusividade para os fiordes da Patagônia e Terra do Fogo. O Stella Australis foi feito para navegar exclusivamente nas águas do fim do mundo. As cabines são confortáveis, com um janelão que permite admirar a paisagem incrível e mutante, o atendimento é personalizado e a tripulação faz de tudo para que o hóspede sinta-se realmente bem e confortável.

Saiba mais em: www.australis.com

* O Mochileiro das Maravilhas agradece à AD Comunicação e Australis pelo convite!

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